“Vai ficar inviável”

“Vai ficar inviável”

“Vão tirar da minha boca para colocar na boca dos outros”. O sentimento do sojicultor André Bonmann, de 37 anos, traduz sua preocupação com a possibilidade de aumento na carga tributária cobrada sobre a soja exportada. Agricultor em Querência, André planta em 170 hectares, dos quais 85 ha são próprios, e faz parte dos 50% de produtores de soja de Mato Grosso que têm até 1.000 ha.

A história de André, vice-presidente da Região Leste da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), é parecida com a de muitos dos 5.000 agricultores das culturas de soja e milho do estado. Veio de Independência (RS) para Mato Grosso aos 20 anos, com um curso de Técnico Agrícola concluído e o ímpeto comum aos jovens.

“Tinha concluído um intercâmbio na Alemanha que ganhei para trabalhar, porque sabia um pouco de alemão, e estava todo animado”, lembra. Apesar da familiaridade com a língua, ainda era “muito menos do que imaginava”. Um dia por semana ia à escola para aperfeiçoar o alemão, e nos outros trabalhava com a “mão na massa” numa fazenda de trigo, cevada e centeio na cidade de Nienburg Wessa.

De volta ao Brasil, resolveu arriscar e ir visitar um primo que morava na distante Querência. “Cheguei com R$ 200,00 no bolso”. Logo conseguiu o primeiro emprego em uma revenda de defensivos e produtos agrícolas. Foi juntando dinheiro, e em 2003, logo depois de se casar, comprou 100 hectares, nos quais planta 85 ha. “Usei uns lotes na cidade como garantia no banco e me joguei”.

A fazenda, localizada a 14 km da cidade, foi administrada diretamente por André. Alguns anos depois de consolidar as lavouras de soja e de milho na propriedade, veio a crise econômica de 2005 e os efeitos sobre a soja foram cruéis: de R$ 40,00 a saca, o preço caiu para R$ 15,00.

Depois de absorver esse baque, o agricultor partiu para um desafio maior: arrendou, em 2009, 1.170 hectares. “Comprei máquinas e contratei três funcionários”. A perspectiva era boa: “era uma área bonita, plana”.

O começou foi bom, mas no último ano do arrendamento, na safra 2011/12, o cenário se agravou com a evolução da ferrugem asiática, uma doença causada por fungos que prejudica a planta. “No meu primeiro ano de plantio, usávamos de duas a três aplicações de defensivos por hectare, mas em três anos foi preciso passar para oito aplicações. Além das perdas com a doença, isso afetou minhas finanças também, pois os custos aumentaram”. 

O aumento no valor do arrendamento piorou a situação de André. No primeiro ano, o agricultor pagava 2 sacas por hectare, e, no terceiro, o valor passou para 6 sc/ha. “Mas no quarto ano, o pedido era para 12 sc/ha, o que era impossível para mim. Plantar lá ficou insustentável”, lembra. Dessa época, ficou uma dívida de 6.000 sc/ha, que foi quitada só quatro anos depois.

Hoje, André segue na gestão de seus 170 ha, convencido de que o correto é se manter “pequeno”. “Toco a fazenda sozinho, e para aumentar um pouco a renda presto serviços com meus maquinários para outros produtores, sempre que possível”. Ainda há financiamento de máquinas agrícolas e veículos para pagar. Os lotes na cidade foram vendidos para ajudar a reduzir a dívida. As filhas estão em colégio público, e a esposa é importante na composição da receita familiar.

“Um dos motivos de vir pra Aprosoja é que aqui a gente tenta achar soluções para os problemas que todos nós, agricultores, temos”, diz André, que, assim como os demais diretores, é voluntário. André estará nesta sexta (27) ao lado do presidente da Aprosoja, Endrigo Dalcin, em Água Boa para discutir a proposta do Governo do Estado de dobrar a contribuição do Fethab sobre os sojicultores.

O investimento em logística para ele, e para muitos da região Leste de Mato Grosso, é uma das saídas possíveis. “Se a gente conseguisse reduzir o custo com frete, sobraria um pouco mais de lucro, né?”. Mas o aumento de taxas, impostos e contribuições é visto com receio. “Quem é pequeno como eu vai crescer como? Se isso tudo se confirmar, acho que o caminho é sair da atividade, procurar outra coisa para fazer. Vai ficar inviável”. 

Camila Bini

Assessoria de Comunicação
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