Comitiva da Aprosoja conhece realidade agrícola da Argentina

Comitiva da Aprosoja conhece realidade agrícola da Argentina

Uma comitiva de representantes da Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) visitou a Argentina no início de abril. O objetivo foi conhecer o sistema produtivo do país e, especificamente, as políticas agrícolas argentinas. No trajeto até Rosário, os brasileiros viram um pouco da realidade argentina na produção de grãos.

O solo e o clima possibilitam menor uso de insumos e, consequentemente, menos gastos que em Mato Grosso. A tendência lá é deixar a planta no solo por mais tempo para diminuir a umidade dos grãos. “Vimos que em muitos armazéns não há secadores, o que indica que os grãos, quando colhidos, já possuem umidade próxima do ideal e dentro das normas para armazenamento”, diz Frederico Azevedo, coordenador da Comissão de Política Agrícola da Aprosoja. Na conversa com agricultores locais, verificaram que a produtividade nesta região é superior à média de Mato Grosso, 75 sacas por hectare e, na Argentina, 66% das terras são arrendadas.

A classificação de grãos é um ponto sensível de discussão na agricultura mato-grossense. A comitiva da Aprosoja conheceu em Rosário a Bolsa de Comércio de Grãos, da qual faz parte a Câmara Arbitral e o Tribunal de Arbitragem. A Bolsa surgiu como forma de venda dos produtos agrícolas e a Câmara, para dirimir eventuais litígios. “Os contratos de compra e venda de cereais citam a Câmara Arbitral como foro para dirimir quaisquer dúvidas ou litígios do contrato”, explica Frederico Azevedo. Outra informação importante é que o governo federal argentino não interfere na Câmara Arbitral, apenas garante regras gerais.

A Associação de Cooperativas do país tem uma estrutura portuária em San Lorenzo. Lá, a comitiva verificou a rapidez no desembarque dos caminhões (uma hora da chegada até a saída do terminal). As cargas já são avaliadas visualmente por dois classificadores, um do vendedor e outro do comprador. “Se a amostra é aprovada pelos dois, a carga já é liberada. Se houver dúvida, um terceiro classificador é acionado para verificar a amostra. Se algo estiver fora do padrão, é aberto um litígio na Câmara Arbitral, que resolve o caso em algumas horas”, conta Angelo Ozelame, gestor de Análise de Mercado do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea). Mesmo que não haja conflitos, as amostras são guardadas por três meses.

Durante a viagem, a comitiva também soube que pequenos produtores de soja da Argentina estão preferindo reter sua produção em armazéns particulares aguardando melhorias econômicas no país. A informação foi repassada pela Rofex, empresa que trabalha com mercado futuro e de opções na Argentina. “Disseram que os agricultores têm armazenado um bom volume de soja e esperam mudanças no final deste ano, com um novo governo eleito no país. Isso pode gerar uma inundação de produtos argentinos e gerar instabilidade de preços no mercado mundial. Porém, ainda temos dúvida se estes estoques realmente existem”, diz Adolfo Petry, coordenador da Comissão de Política Agrícola da Aprosoja.

Em relação à biotecnologia, a Argentina também está estudando formas de se adequar ao novo momento da agricultura. “Eles também acreditam que é necessário pagar pela tecnologia, porém querem uma forma em que a remuneração seja justa”, diz Adolfo Petry. Além de a legislação agrícola ser antiga, a Argentina não tem uma lei sobre patentes. Os produtores argentinos utilizam 80% das sementes salvas, somente o restante é comprado de sementeiras. O clima possibilita que o agricultor guarde a semente sem perda de poder germinativo e vigor, além de que as sementeiras cobram caro – as sementes custam cerca de US$ 200 por hectare.

Sobre seguro para soja e milho, os produtores rurais utilizam para proteção contra granizo (cerca de 80% da área é segurada), porém o seguro de seca e multirrisco é muito caro e pouco utilizado, como no Brasil. No Ministério da Agricultura, Pecuária e Pesca da Argentina (Minagri), os representantes brasileiros souberam que não há interferência governamental neste quesito, de forma geral. “O governo só interfere na província e em regiões em que a agricultura é extremamente dependente destes seguros, como é o caso de regiões produtoras de frutas em geral”, explica Petry. 

Camila Bini

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