O futuro chegou

O futuro chegou

Fernando Martins

A imagem de que a agricultura é uma atividade intuitiva, totalmente dependente do clima e da sorte nunca esteve mais distante da realidade. Controle de planilhas financeiras, monitoramento da lavoura e do clima, uso de big data, análise estatística e adoção de tecnologias cada vez mais recentes devem ser atividades rotineiras para o agricultor.

O alerta foi dado por quatro especialistas durante o III Simpósio Agroestratégico realizado pela Associação de Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja) ontem em Cuiabá. “Estamos na era do conhecimento e da gestão dos processos”, sintetizou o Dr. Antônio Luiz Fancelli, da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (Esalq), que palestrou sobre as interferências fisiológicas nas plantas.

A produção de conhecimento em cada propriedade rural é fundamental para que o agricultor não fique refém de aspectos conjunturais que não são por ele gerenciáveis: macroeconomia, política e clima. “O ponto de partida é coletar informações e tratá-las para poder melhorar a gestão rural. Mas, infelizmente, 90% dos produtores ainda não conhecem seus riscos”, afirma Leonardo Sologuren, da Horizon Company.

Leonardo garante que é questão de tempo a adesão de agricultores à gestão compartilhada, por meio de aplicativos colaborativos para a troca de informação. “A agricultura será totalmente conectada. O futuro já chegou”.

Daniel Latorraca, superintendente do Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea), chamou atenção para o volume de dados que o agricultor gera e precisa gerenciar. “Estamos na era da agrointeligência, e não vai demorar para que, além de um agrônomo e de um contador, o agricultor precise ter um estatístico ou um analista de dados em sua propriedade”, afirma.

A gestão das informações sobre a produção é a única ferramenta para a sustentabilidade do negócio agrícola. Principalmente porque nos últimos anos a lucratividade tem sido reduzida, enquanto os custos de produção se ampliam. “Enquanto o valor da terra aumentou seis vezes de 2001 a 2016 em Mato Grosso, a receita do agricultor aumentou 0,84% no mesmo período. Como um retorno do investimento lento assim, é preciso saber muito bem como tudo funciona na sua propriedade”, compara Latorraca.

Mas os especialistas não resumem informação a dados financeiros. “Deter conhecimento sobre a fisiologia das plantas, por exemplo, é fundamental. Cabe ao agricultor saber ler todos os elementos que impactam no desenvolvimento da lavoura: o ambiente, a genética e o equilíbrio hormonal e nutricional”, ponderou Fancelli.

Nessa perspectiva, até o imponderável clima se torna administrável. “Muitos colocam culpa no clima quando há uma frustração de safra, mas com o tanto de informação que temos disponível essa justificativa não procede”, comenta o meteorologista Marco Antonio dos Santos, da Somar. Hoje, as previsões facilmente podem ser acessadas, contribuindo para a tomada de decisão do agricultor.

Marco Antonio alertou para a chegada do fenômeno La Niña, que atrasa o início e o término das chuvas. “Teremos chuvas em setembro e outubro, mas não serão regulares. O agricultor precisa conhecer esse cenário para se adequar a ele, investindo em sementes com mais qualidade e apostando na variedade das cultivares”, orientou.

Organizador do Simpósio Agroestratégico, o diretor técnico da Aprosoja, Luiz Nery Ribas, avalia positivamente esta terceira edição. “Recebemos mais de 200 pessoas, em sua maioria agricultores em busca de informação. O sucesso do evento é ver que os participantes conseguiram conectar as discussões das palestras com o seu cotidiano na fazenda”, analisa. Embora ainda sem data definida, o simpósio será levado para o interior, seguindo a temática deste ano: clima e gestão. 

Gabriela Poubel

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