Em busca de alternativas ao controle químico

Em busca de alternativas ao controle químico

Num cenário em que o controle fitossanitário químico começa a sinalizar perda de performance nas culturas de soja e milho, cabe ao agricultor reavaliar as suas práticas de manejo e considerar alternativas como o controle biológico. Esse foi o principal alerta deixado pelos pesquisadores que participaram do IV Simpósio Agroestratégico, realizado ontem (04/05) em Cuiabá.

 

Promovido pela Associação dos Produtores de Soja e Milho de Mato Grosso (Aprosoja), o evento reuniu mais de 200 participantes, entre agricultores, especialistas e técnicos do setor agrícola, para debater o tema “Manejo Antirresistência e Agricultura Sustentável”.

 

“Estamos diante de desafios biológicos, de resistência. Precisamos saber as estratégias e, mais, vimos que precisamos fazer diferente. Este está sendo um ano abençoado, por conta do clima, que está nos garantindo a média de 55 sacas de soja por hectare. Temos o desafio de segurar essa média alta, mas adotando estratégias de manejo e tecnologia que nos permitam não depender apenas do clima”, analisa o presidente da Aprosoja, Endrigo Dalcin.

 

O cenário mais preocupante quanto às doenças que acometem as lavouras de grãos foi relatado pela doutora Cláudia Godoy, da Embrapa Soja, sobretudo quanto à resistência da ferrugem asiática aos fungicidas no Brasil e em países de fronteira, como Paraguai e Bolívia. Embora haja no mercado uma margem de 20 produtos para o combate da doença no país, cinco deles têm o uso recomendado e outros nove são produtos com apenas 40% de efetividade no controle da ferrugem.

 

“Este ano, o Comitê de Ação Antirresistência de Fungicidas (Frac) alertou para a mutação de um fungo com ocorrência no Sul do país e até em Mato Grosso do Sul. Ainda não é o fundo do poço, porém não há novos produtos vindo do exterior há 20 anos. Isso pode colocar em risco toda a produção de soja do Brasil”, comentou Cláudia Godoy. Para ela, há a necessidade de se adotar estratégias associadas de vazio sanitário nos estados em que a soja é produzida, assim como nos países produtores de fronteira.

 

O reestabelecimento da suscetibilidade das cultivares aos fungicidas, o uso de áreas de refúgio, a integração das diferentes táticas de manejo foram as principais mensagens deixadas por Celso Omoto, doutor pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq). O foco de sua palestra foi a busca pela longevidade da produção brasileira de grãos.

 

“O sucesso do agronegócio depende da preservação da biodiversidade. É preciso pensar as nossas estratégias, porque nossa realidade tropical é muito diferente da praticada lá fora. Não dá apenas para reproduzir aqui o que vem dos Estados Unidos, por exemplo. E Mato Grosso é um estado com agricultores muito organizados, o que é uma oportunidade ímpar de fazer a coisa certa”, ponderou Omoto.

 

A capacidade de armazenamento da produção de grãos brasileira foi o tema que abriu o debate no segundo painel do Simpósio, com Mauro Osaki, também doutor pela Esalq. Ele demonstrou que o Brasil, em comparação aos Estados Unidos (cuja capacidade de armazenagem da produção supera os 100%), está muito aquém na capacidade estática de armazenamento. Mato Grosso, maior produtor brasileiro, tem carência de 40% de armazenagem – o que significa que 40% da produção fica a céu aberto após a colheita.

 

“Essa situação resulta em uma diferença de preço da soja, por exemplo, de até 30% menos do que está lá em Sorriso em relação ao porto de Paranaguá (PR). Temos super safra sem ter onde guardar. O resultado: queda de preço”, destacou Osaki.

 

O painel sobre agricultura biológica e pó de rochas foi composto por duas palestras. A primeira teve como tema “Premissas básicas para seleção e multiplicação de microorganismos isolados”, com o doutor da Embrapa Milho e Sorgo, Fernando Hercos Valicente. Já o doutor da Embrapa Cerrados, Éder de Souza Martins, falou sobre “Legislação, conceito e premissas de uso de remineralizadores”. Os dois apresentaram produtos de bases biológicas e agrogeológicas, como potássio (existente inclusive em Mato Grosso), aptos a entrarem no mercado de defesa agrícola.

 

A última apresentação do evento foi o caso de sucesso do produtor rural Vitório Herklots, de Campo Novo do Parecis. Ele demonstrou a forma de recuperação de área a partir da utilização da rotação de cultura pelo período de um ano em sua propriedade. “Ao invés de plantar lucro a cada dois anos, eu estava plantando prejuízo todo ano. Precisei parar para ver o que estava fazendo e recomeçar. Dei uma folga de todos os ‘cidas’ da terra para que os microorganismos tivessem condições de se recuperar”, relatou.

 

A coordenadora da Comissão de Defesa Agrícola da Aprosoja, Roseli Giachini, conduziu duas mesas redondas no Simpósio Agroestratégico, e destacou a peculiaridade do cultivo agrícola em Mato Grosso e a importância dos temas abordados. “Nosso sistema de produção é complexo, porque temos cultivo praticamente o ano todo. A produção em Mato Grosso precisa ser sustentável e rentável. O produtor tem que entender o sistema e nem sempre o que serve para ele irá servir para outro. Precisamos de práticas conservacionistas. A gente entende que será sustentável se tiver acesso a todas as ferramentas de controle, que não são apenas químicas. Existem outras alternativas”, argumenta ela, que é também segunda vice-presidente Norte da Aprosoja.

 

Para espectadores, o encontro atingiu o propósito de discutir os desafios do cultivo de soja e milho em Mato Grosso – e deixou um gostinho de “quero mais”. “Todos os temas foram muito relevantes para a prática do campo. Tão importantes que poderíamos até ter mais tempo para aprofundar a discussão”, avalia Daniel Denti, agricultor de Campo Verde.

 

 

Ascom Aprosoja

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